Nos últimos anos, o Ozempic — um medicamento originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2 — tornou-se o centro das atenções como “fórmula mágica” para perda de peso. Celebrities e influenciadores digitais atribuem a ele (e a substâncias similares) resultados impressionantes, como redução de 10% a 15% do peso corporal em poucos meses. Mas qual é o mecanismo por trás dessas drogas? Elas são seguras para quem busca apenas emagrecer? Este artigo mergulha na ciência, nos benefícios e nos riscos por trás do fenômeno Ozempic e de outras substâncias que prometem emagrecimento rápido.
Ozempic: Mais que uma Moda Passageira
O que é?
Ozempic é o nome comercial da semaglutida, um agonista do receptor GLP-1 (glucagon-like peptide-1), aprovado pela Anvisa para tratamento de diabetes. Ele age imitando um hormônio intestinal que:
- Regula o apetite: Aumenta a sensação de saciedade.
- Retarda o esvaziamento gástrico: Faz você se sentir satisfeito por mais tempo.
- Controla a glicemia: Reduz picos de insulina, evitando compulsões por açúcar.
Por que virou febre para emagrecer?
Em 2021, a semaglutida em dose mais alta (comercializada como Wegovy) foi aprovada pela FDA especificamente para obesidade. Estudos como o STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity) mostraram que participantes perderam em média 15% do peso corporal em 68 semanas, superando dietas e exercícios isolados.
Efeitos colaterais preocupantes:
- Náuseas, vômitos e diarreia (comuns no início do uso).
- Risco de pancreatite e problemas na vesícula biliar.
- Possível perda de massa muscular se não houver acompanhamento nutricional.
Polêmica: A procura desenfreada por Ozempic gerou desabastecimento para pacientes diabéticos, levantando questões éticas sobre o uso off-label.
Outras Substâncias em Alta no Mundo do Emagrecimento Rápido
1. Tirzepatida (Mounjaro/Zepbound)
- Mecanismo: Combina agonismo de GLP-1 e GIP (outro hormônio relacionado ao metabolismo).
- Resultados: No estudo SURMOUNT-1, usuários perderam até 22,5% do peso corporal em 72 semanas.
- Vantagem: Eficácia superior à semaglutida em alguns casos.
- Riscos: Similar aos do Ozempic, com destaque para hipoglicemia em não diabéticos.
2. Liraglutida (Saxenda)
- Como funciona: Também agonista de GLP-1, porém com ação mais curta que a semaglutida.
- Eficácia: Perda média de 5% a 10% do peso em 56 semanas.
- Indicação: Aprovado para obesidade, mas requer injeções diárias.
3. Berberina: O “Ozempic Natural”
- O que é: Composto extraído de plantas como Berberis vulgaris, popularizado como alternativa “natural” aos medicamentos.
- Evidências: Estudos preliminares sugerem que pode melhorar sensibilidade à insulina e reduzir apetite, mas não há comprovação de eficácia comparável à semaglutida.
- Riscos: Diarreia, flatulência e interações com medicamentos (ex.: anticoagulantes).
4. Suplementos Termogênicos e Laxantes
- Estimulantes: Cafeína, sinefrina (extrato de laranja-azeda) e efedrina (proibida no Brasil) são usados para acelerar metabolismo, mas causam taquicardia e ansiedade.
- Laxantes: Abusados para “desinchar”, levam a desidratação e desequilíbrio eletrolítico.
Por que Essas Substâncias Funcionam (e Por que Não São Soluções Mágicas)
A Ciência por Trás do Efeito
Agonistas de GLP-1 como Ozempic atuam no cérebro, reduzindo a compulsão alimentar e a “fome emocional”. Isso os torna eficazes especialmente para quem tem resistência à leptina (hormônio da saciedade).
Limitações:
- Custo proibitivo: 1.200 a 2.500 reais por tratamento.
- Efeito platô: A perda de peso estagna após alguns meses, exigindo ajustes de dose.
- Rebote: Estudos mostram que ⅔ dos pacientes recuperam o peso em 2 anos se interrompem o uso sem mudar hábitos.
O Papel Crucial do Estilo de Vida
Um erro comum é achar que essas substâncias dispensam dieta e exercício. Na verdade, elas são ferramentas adjuvantes:
- Pacientes do estudo STEP mantiveram dieta de 500 calorias a menos e 150 minutos de exercício semanal.
- A perda muscular é significativa sem ingestão adequada de proteína e treino de força.
Riscos do Uso Sem Supervisão Médica
Casos reportados na mídia destacam complicações graves entre quem compra Ozempic no mercado negro ou usa doses incorretas:
- Hipoglicemia severa em pessoas sem diabetes.
- Deficiências nutricionais por restrição calórica excessiva.
- Dependência psicológica: Medo de engordar ao parar a medicação.
Quem Não Deve Usar:
- Gestantes, pessoas com histórico de câncer de tireoide ou pancreatite.
- Indivíduos com transtornos alimentares (risco de agravar a condição).
Alternativas Saudáveis para Perda de Peso Sustentável
Enquanto Ozempic e similares dominam as manchetes, estratégias baseadas em evidências continuam sendo a base para um emagrecimento seguro:
- Dieta hiperproteica: Aumentar proteínas (1,6–2,2 g/kg de peso) preserva músculos e aumenta saciedade.
- Treino intervalado (HIIT): Combate resistência à insulina e acelera metabolismo.
- Sono de qualidade: Dormir menos de 6 horas aumenta grelina (hormônio da fome).
- Psicoterapia: Tratar compulsão alimentar e ansiedade reduz recaídas.
Conclusão: Emagrecer é Saúde, Não Só Estética
Ozempic e outras substâncias revolucionaram o tratamento da obesidade, mas seu uso requer cautela. Enquanto para alguns pacientes são aliados valiosos, para outros podem ser um atalho perigoso. A chave está no equilíbrio: combinar acompanhamento médico, nutrição personalizada e mudanças graduais no estilo de vida. Lembre-se: emagrecimento rápido raramente é sinônimo de saúde duradoura.
Fontes Consultadas:
- NEJM (2021): STEP Trials on Semaglutide for Obesity.
- FDA (2023): Safety Announcement on GLP-1 Receptor Agonists.
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia: Posicionamento sobre Uso de Agonistas de GLP-1.
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